"A morte de Pablo Neruda está envolta em mistério"
Mario Amorós é um grande apaixonado de Chile e de Pablo Neruda. Este jornalista e escritor espanhol passou mais de quatro anos a trabalhar no seu mais recente livro que mesmo antes da publicação, a 11 de novembro, deu muito que falar. Na biografia do Prémio Nobel chileno, Neruda. O Príncipe dos Poetas, Amorós publica o conteúdo de um documento do Ministério do Interior chileno segundo o qual é "altamente provável" que Pablo Neruda tenha sido assassinado. A obra não fala só da morte do poeta mas sobre ela pretende dar o maior número de detalhes desta que é uma questão "muito complicada" que deverá ser esclarecida ao longo de 2016, quando os exames científicos forem terminados. Para já, "sou prudente e não tenho a certeza de que Neruda tenha sido assassinado, mas é evidente que foi uma morte envolta em mistério", explica ao DN.
Em 2012 publicou Sombras sobre Ilha Negra onde já fala da morte de Neruda...
Sim, foi publicado no Chile. Escrevi o livro depois da denúncia do motorista Manuel Araya, que está convencido de que Neruda foi assassinado através de uma injeção na Clínica Santa María, por ordem da ditadura militar. É um tema muito complicado e sempre tentei confirmar ao máximo todas as informações. Existem duas testemunhas fundamentais: o motorista e a viúva, Matilde Urrutia. Encontro muitas contradições nos seus discursos sobre as últimas horas de Neruda mas os dois acreditam que o poeta não morreu de cancro, tal como aparece na certidão de óbito.
E neste livro traz novidades?
Foi publicado um documento oficial do Ministério do Interior chileno enviado ao juiz Mario Carroza Espinosa, encarregado da investigação da morte de Neruda, em que pela primeira vez se reconhece a possibilidade de Pablo Neruda ter sido assassinado. Um documento que faz parte do sumário do caso e consegui-o por meios lícitos. O sumário judicial tem duas partes: uma reservada com dados da exumação, informações científicas e este documento; e a parte pública que pode ser consultada por qualquer jornalista.
Como está agora o processo?
Tal como explico no epílogo do livro, a investigação judicial já acumula mais de duas mil e quatrocentas páginas, distribuídas em sete tomos, além de um caderno de relatórios de perícias com quase 900 páginas em três volumes. Ao longo de 2016 serão conhecidos os resultados finais do exame genómico, a última das provas científicas que falta. Depois, os restos de Pablo Neruda poderão voltar a descansar, para sempre, na Ilha Negra, frente ao mar azul e verde que acompanhou os seus dias e a sua poesia.
Está convencido do assassínio de Pablo Neruda?
Não estou. Fui muito prudente ao escrever. Penso que o importante é que o Chile está a investigar o caso, tal como fez com a morte do presidente Allende e de outras pessoas anónimas. Isso é uma lição para países como Espanha, onde não se investiga a repressão franquista e os fuzilados republicanos continuam nas valetas. É um exemplo de como Espanha e outros países deviam atuar. Temos de ter paciência, ser rigorosos e expor o que há. É um tema que chama a atenção, que já deu a volta ao mundo e tem um grande protagonista. Continua a ser um tema aberto e em breve vamos saber a resposta. Seria terrível saber que Neruda, que tinha só 69 anos [em 1973, quando morreu], foi assassinado. Continuava a escrever, a pronunciar discursos e no exílio teve o papel de grande inimigo de Pinochet.
Em Madrid